quinta-feira, 24 de março de 2011

Crônica de 1938 sobre o perigoso "Avanço do Feminismo" em Caxias do Sul


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Texto do documento acima, transcrito pelo História Caxias:
   

9-1-1938 / Jornal O Assombro 
O Avanço do Feminismo

Que as mulheres estão avançando é coisa indiscutível. Fora de discussão é também o fato de que o mundo começou a andar de cabeça tonta depois que as mulheres, deixando de avançar somente na bolsa dos homens, passaram a avançar nas celebres conquistas femininas. Em toda a parte principiaram a botar a cabecinha de fora. Primeiro foram costureiras apenas. Depois manicures, agarrando-se à vida com as unhas... dos outros. Em seguida, empregadas de balcão e datilografas. Mais tarde deram uma topada nos garçons e viraram garçonetes. E assim paulatinamente, tomaram conta de todos os empregos, aleijando os homens que daí por diante se dividiram em duas categorias: os que trabalham e os que não trabalham, subdividindo-se estes em duas outras, os voluntários e os forçados. Bom, mas isto não tem nada a ver com a história. O que tem que ver é que nesta prá lá de simples Caxias as mulheres estão se fazendo demais. Por exemplo o cristão que, quizer assistir a igreja aos domingos, ou vai à missa muito cedo ou então permanece de pé, porque as devotas (devotas?) enchem todos os bancos, do lado a que tem direito e do outro também. Até hoje ninguém se atreveu a reclamar. Nos cafés idem. Mulheres ocupando as mesas, dando prejuízo ao Bento Alves e ao Glorocinto, inutilisando uns miseráveis meios sorvetezinhos de quatro tostões. E as caixerinhas, e as cobradoras, e as empregadas das fabricas se essas centenas de mulheres que andam por ahi ocupando os lugares que de justiça caberiam aos homens.
O avanço é tão grande que chegou agora ao nosso conhecimento mais um fato, não apenas alarmante, mas até lamentável.

É o caso que sendo necessária a renovação da atual diretoria do Sindicato dos Bancários, o presidente indicado será uma mulher. Parece mentira, mas é verdade amigo Bastião. Os bancários caxienses vão ser dirigidos por uma bancária!

Si isso continuar desse jeito, amanhã ou depois teremos por ahi uma prefeita, uma bispa, uma delegada de polícia (há tanta sogra venenosa em Caxias!) e as mulheres tomando conta de tudo.

E nós os homens, ficaremos em casa cozinhando, limpando, lavando a roupa, serzindo as meias e quem sabe si até mesmo acalentando e amamentando os queridinhos dos filhinhos.

É preciso reagir minha gente!

Martins

 [Fim do documento, os grifos são do História Caxias]


Informações complementares:

A crônica é citada por Maria Abel Missel Machado (historiadora) em sua dissertação de mestrado que virou livro ("Mulheres sem Rosto", Ed. Maneco, 1998). A crônica está se referindo à eleição da Srta. Segismunda Pezzi (casada ganhou o sobrenome Letti) para o cargo de presidente do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul (indicação ocorrida em dezembro de 1937). Segismunda era funcionária do Banco Francês e Italiano, tendo sido admitida em 1925.



Informações de pesquisa: 

Publicação: O Assombro
Data publicação: 09 jan. 1938
Acervo:  Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHMJSA) - Hemeroteca
Consulta: Centro de Memória da Câmara Municipal de Vereadores de Caxias do Sul (AHCM) (http://www.camaracaxias.rs.gov.br)
Metadados: JPEG; 1,2mb; 96dpi

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